terça-feira, 31 de maio de 2011

Desafio

O desafio é um canto puro que às vezes pode aparecer em danças cantadas. Existiu em toda a Europa, chegando ao Brasil por via portuguesa.

Bastante popular principalmente no Nordeste, onde é conhecido como cantoria, porfia ou peleja, existe em outras regiões, sendo mais comum no interior do que no litoral.

No Paraná é conhecido também como porfia, que, segundo Renato Almeida, “é tirada ao meio das danças sertanejas, nos fandangos”. Consiste essencialmente num torneio poético em que dois cantadores medem seus talentos de improvisação. Um dos cantadores inicia a provocação, a que o outro deve responder com presteza, dentro das perguntas feitas ou do assunto proposto. O torneio dura até que um dos contendores não consegue responder ou se declara vencido.

O maior atrativo do desafio está na poesia, sendo a música mero acompanhamento, com melodias de estrutura simples. A viola pode acompanhar tudo num só acorde. Além desse instrumento, são empregados rabeca e sanfona — esta substituindo a viola no Rio Grande do Sul. O pandeiro também foi usado por cantadores do passado, como o célebre Inácio da Catingueira.


No Nordeste, a música instrumental só aparece nos intervalos dos versos, nunca coincidindo com a voz do cantador. Em outras regiões, a música pode acompanhar o canto. Existe grande variedade musical, isto é, um tipo de melodia para cada tipo de estrofe e métrica empregadas. Para essa variedade concorre também o baião ou rojão, pequeno interlúdio instrumental de andamento mais rápido que o do canto, durante o qual os cantadores preparam suas respostas.

São vários os moldes poéticos do desafio usadas pelos cantadores. O mais comum no Nordeste é a colcheia ou verso-de-seis-pés (obra-de-seis-pés), como lhe chamam os cantadores, constituida por sextilha de sete sílabas, com rimas nos segundo, quarto e e sexto versos.

No restante do país, o desafio em geral é baseado na quadra de sete sílabas, que também já foi usada no Nordeste. Além das perguntas e respostas, há outro elemento importante nos desafios: a apresentação extremamente vaidosa que os cantadores fazem de si mesmos. 

Americano do Brasil aponta três modalidades de desafio no Brasil Central: “a simples amostra da fecundidade dos violeiros em rimar, mostrando resistência, pois não raro atravessam a noite no curioso torneio; a fórmula clássica do desafio, consistente em receber um dos campeões a deixa do último verso do adversário. E finalmente a composição da quadra ou sextilha pelo mútuo concurso de ambos, pertencendo a metade a cada rimador”. 

No Nordeste, também as mulheres cultivam a cantoria (titulo com que os cantadores definem sua arte), havendo grande número de cantadoras. 

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira.

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