sexta-feira, 15 de julho de 2011

Macumba

Cena de Macumba - 1955 (Antonio Gomide)
A macumba é um culto fetichista afro-brasileiro com ritual baseado no canto e na dança. A designação é do Rio de Janeiro. A finalidade do culto está na propiciação e invocação de divindades (orixás ou santos), manifestadas através dos iniciados, na maioria mulheres.

Os pontos são cantos especiais entoados para chamar e saudar as entidades sobrenaturais, que se apossam dos iniciados durante a cerimônia. A música e a dança são os principais fatores dos fenômenos de possessão verificados no culto.

Mário de Andrade fornece detalhada explicação sobre como atua a música de macumba: 


“A força hipnótica da música é mesmo apreciadíssima do nosso povo, e constantemente ele usa dum processo curiosíssimo, verdadeiro compromisso rítmico-tonal, que consiste em fazer que o ritmo não acabe ao mesmo tempo que a evolução tonal da melodia, o que leva a gente a recomeçar a peça pra que a melodia acabe tonalmente. (...)

Explico bem; sobre um texto dado, se fixou um ritmo de ordem exclusivamente musical, que consiste na repetição geralmente de um, ou mais motivos rítmicos. Esta repetição agrupada pelos acentos fixa a binaridade e a quadratura estrófica da melodia. Assim, quando o texto chega ao seu ponto final, o ritmo da melodia também chegou ao seu ponto final. Isso dá sensação de repouso, que não apenas permite, mas provoca a terminação da cantoria. Mas sucedeu que a evolução harmônica da melodia, ao finalizarem texto e ritmo, não está na tríade tonal, mas numa das notas de passagem da escala, evocando pois um acorde dissonante.

Se a melodia também estivesse na tônica ou na mediante, a sensação de repouso, de fim, seria completa, e levaria a finalizar a repetição. Mas o que a psique nacional deseja é mesmo a repetição, a repetição inumerável que hipnotiza ou embebeda, e por isso a melodia, ao chegar o ponto final de texto e ritmo, está na sensível, no 2 grau, no 4, em geral provocando justamente o acorde de sétima-de-dominante, que obriga a continuar pelo menos com mais um som.

Mas pra que este som seja executado, foi preciso reiniciar o texto e reiniciar o ritmo, e reiniciados estes é imprescindível ir até o fim deles. Mas ao chegar no fim deles é a evolução tonal da melodia que obriga a recomeçar outra vez. E isso leva a multiplicar infindavelmente a pequena frase da cantoria, e tirar pois, fisiopsiquicamente falando, todo o poder hipnótico que ela tem”.

História

O conceito da macumba está tão arraigado na cultura popular brasileira, que são comuns expressões como "xô macumba" e "chuta que é macumba" para demonstrar desagrado com a má sorte. As superstições nesse sentido são tão grandes, que até mesmo para a Copa do Mundo foram criados sites para espantar o azar. São também muito comuns amuletos que vão desde adereços até objetos que remetem aos utilizados nos cultos religiosos.

Popularmente, a palavra macumba é utilizada para designar genericamente os cultos sincréticos afro-brasileiros derivados de práticas religiosas e divindades dos povos africanos trazidos ao Brasil como escravos, tais como os bantos, como o Candomblé e a Umbanda.

Entretanto, ainda que macumba seja confundida com o Candomblé e a Umbanda (que na verdade macumba é considerada uma das raízes de Umbanda e Candomblé) , os praticantes e seguidores dessas religiões recusam o uso da palavra para designá-las.

Outras acepções para o termo macumba são: 1) Macumba, na acepção popular do vocábulo, é mais ligada ao emprego do ebó, feitiço, "despacho", coisa-feita, mironga, mandinga, muamba; 2) Palavra usada no sentido pejorativo para se referir ao candomblé ou à umbanda; 3) Diz-se mais comumente macumba que candomblé, no Rio de Janeiro, e mais candomblé do que macumba, na Bahia.

O folclorista Luís da Câmara Cascudo diz que "ainda ao tempo das reportagens de João do Rio os cultos de origens africanas no Rio de Janeiro chamavam-se, coletivamente, candomblés, como na Bahia, reconhecendo-se contudo, duas seções principais: os orixás dos cultos nagôs e os alufás dos cultos muçulmanos (malês) trazidos pelos escravos. Mais tarde o termo genérico 'macumba', foi substituído por Umbanda. Meio século após a publicação de 'As Religiões do Rio', estão inteiramente perdidas as tradições malês e em geral os cultos, abertos a todas as influências, se dividem em terreiros (cultos nagôs) e tendas.

No livro de 1904 As Religiões no Rio Paulo Barreto, sob o pseudônimo de João do Rio escreveu: “Vivemos na dependência do feitiço, dessa caterva de negros e negras de babaloxás e yauô, somos nós que lhes asseguramos a existência, com o carinho de um negociante por uma amante atriz. O feitiço é o nosso vício, mas o nosso gozo, a degeneração. Exige, damos-lhe; explora, deixamo-nos explorar e, seja ele maitre-chanteur, assassino, larápio, fica sempre impune e forte pela vida que lhe empresta o nosso dinheiro.” Macumba era definida por toda e qualquer manifestação mediúnica de curandeiros, pais-de-santo, feiticeiros, charlatões, e todos aqueles que se dispunham a intervir junto às forças invisíveis do além apenas em troca de dinheiro e poder. Ver:marmoteiro.

Prandi, 1991 "E a macumba carioca, portanto, pode bem ter se organizado como culto religioso na virada do século, como aconteceu também na Bahia. Não vejo, pois, razão para pensá-la como simples resultante de um processo de degradação desse candomblé visto no Rio no fim do século por João do Rio, essa macumba sempre descrita como feitiçaria, isto é, prática de manipulação religiosa por indivíduos isoladamente, numa total ausência de comunidades de culto organizadas.

Arthur Ramos fala de um culto de origem banto no Rio de Janeiro na primeira metade do século, cultuando orixás assimilados dos nagôs, com organização própria, com a possessão de espíritos desencarnados que, no Brasil, reproduziram ou substituíram, por razões óbvias, a antiga tradição banto de culto aos antepassados (Ramos, 1943, v.1, cap. XVIII). São cultos muito assemelhados aos candomblés angola e de caboclos da Bahia, registrados por Edison Carneiro, que já os tratava como formas degeneradas (Carneiro, 1937. Para uma análise atual da questão da pureza nagô, ver Beatriz Góis Dantas, 1982 e 1988)."

Fontes: Wikipédia - A Enciclopédia Livre; Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha - 2a. Edição - São Paulo - 1998.

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