quarta-feira, 30 de março de 2011

Candombe

O candombe no Uruguai
O candombe é uma denominação gaúcha para as danças de umbigada dos negros, conhecidas em outros Estados como jongo, tambu, bambaquerê, samba de roda, batuque etc.
Aparece em locais de charqueadas, como Pelotas, ou em regiões de culturas dispersas, com ocupação ilimitada do terreno (agricultura extensiva), como ocorre em Osório e no vale do Taquari, ou ainda em locais de concentração urbana, como na parte velha de Porto Alegre.

Segundo Paixão Cortes e Barbosa Lessa, o candombe, circunscrito a essas regiões, acabou por não adquirir maior significado no Sul, logo caindo em desuso.

O informante desses autores exibiu ainda diversos ritmos, tocados em velhos tambores, aos quais chamava de canjenjera, tibitibi e santo-antônio. Revelou que outrora os tambores soavam durante toda a noite, num ritmo trepidante chamado semba pelos negros (crioulos). O canto era começado pela cumba, uma cantora-dançarina-solista, que lançava um tema, repetido intermitentemente pelo coro.

O candombe no Uruguai

Candombe é um ritmo proveniente da África, e tem sido parte importante da cultura uruguaia por mais de 200 anos e chegou a esse país graças aos escravos.

Para entender como esse ritmo fortemente enraizado na cultura uruguaia evoluiu, é necessário voltar aos anais da história africana e sul-americana e observar como este ritmo contagioso ancorou nas areias de Montevidéu. Os textos que seguem são fragmentos extraídos de livros e artigos sobre o candombe, assim como opiniões de algumas pessoas que o viveram bem de perto.

Montevidéu foi fundada pelos espanhóis em um processo iniciado em 1724 e concluído em 1730. Em 1750 iniciou-se o tráfico de escravos africanos. No inicio do século XIX a população de origem africana em Montevidéu seguramente excedia 50% dos habitantes. A origem desta população não veio de uma África homogênea, e sim de uma África multi-étnica e culturalmente muito variada. Sendo 71% da área de Bantu, África Oriental e Equatorial, sendo que o resto não era dessa origem, sendo da África Ocidental: Guiné, Senegal, Gâmbia, Serra Leoa e Costa do Ouro (hoje Gana).

O Candombe é a sobrevivência do acervo ancestral africano da raiz banto trazidos pelos negros chegados ao Rio de la Plata. O termo é genérico para todos os bailes de negros: sinônimo de dança negra, e evocação do ritual da raça negra. O espírito musical conta dos lamentos dos escravos desafortunados, que contra a própria vontade foram levados para a América do Sul, para serem vendidos e submetidos a humilhações e duras tarefas. Eram almas sofridas, sob inconsolável nostalgia da terra natal. Na época da colônia, os africanos recém-chegados chamavam seus tambores de tangó, e também usavam tangó para denominar o lugar onde realizavam suas danças candomberas. Com a palavra tangó designava-se o lugar, o instrumento e a dança dos negros.

No início do século XIX, o estabelecimento em Montevidéu estava muito preocupado com a realização dos candombes, e que denominavam indistintamente "tambó" ou "tangó", proibindo e castigando duramente os participantes por considerar que esta dança era un atentado a moral pública. Em 1808 os vizinhos de Montevidéu solicitaram ao governador Francisco Javier Elío, que reprima com mais severidade os candombes e "proibisse os tangós dos negros".

O tango se desenvolveu simultaneamente em Montevidéu e em Buenos Aires. Tradicionalmente considera-se uma criação de imigrantes italianos e espanhóis, os conhecedores opinam que a dança e a música africana influenciaram profundamente na música e nos movimentos da dança que se associam com o tango.

A população negra na Argentina foi desaparecendo, em 1800 a febre amarela diminuiu a população, por um lado, os matrimônios mistos, por outro lado, e finalmente o massivo recrutamento militar dos negros que morreram nas guerras. No Uruguai, há dois séculos, as pessoas de descendência africana eram representadas pela metade da população, atualmente o número gira em torno de 189.000 pessoas numa nação de 3.2 milhões.

Após a Declaração da Independência em 1825, as guerras civis dividiram a República durante 75 anos. A ditadura militar silenciou o Uruguai desde 1973 até o restabelecimento da democracia em 1985, quando muitos exilados retornaram. Cerca de 90% dos uruguaios, a grande maioria de descendência espanhola ou italiana, vivem nas cidades, sendo Montevidéu onde se encontra quase 2/5 da população. A educação é gratuita e obrigatória, sendo um dos países mais instruídos da América Latina.

Em Montevidéu, o Uruguai nas noites de domingo, os tambores do Barrio Sur se reúnem na luz de uma fogueira numa interseção do bairro histórico dos negros, numa esquina tranqüila na América do Sul. As chamas bailam na poderosa fogueira e esquentam os tambores. Filas de bateristas desfilam pelas ruas numa confusão de músculo, suor e som, enchendo a noite com este ritmo proveniente da África, conhecido como Candombe.

O ritual na esquina da rua é parte do capítulo esquecido da diáspora africana. Os tambores contam a história do profundo impacto que a cultura africana tem no Uruguai e em outros lugares da América Latina. De fato, os afro-uruguaios celebram um fragmento da história que é sempre ignorado.

O negro que uma vez formou a nação inteira, agora prefere ser um dos muitos. Assim, para que glórias maiores sejam desta terra, glórias têm que serem esquecidas. A recordação é quase um ato de remorso, uma reaproximação das coisas abandonadas sem a interseção do adeus. É a memória resgatada, pois o destino negro assim o quer, para a cortesia e perfeição do seu sacrifício.

O ritmo do Candombe foi criado para o uso de três tambores, piano, chico e repique. Quando estes três tambores "levantan presión" - esquentam -, se ouve algo único, que provavelmente nunca se ouvira antes.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora; O que é candombe?.

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