sábado, 26 de março de 2011

Cabocleiro

O cabocleiro é uma dança dramática ou folguedo de Barra de São Francisco, Espírito Santo, citado sem descrição por Rossini Tavares de Lima.

Também chamado brinquedo-de-caboclo. Talvez seja o mesmo que cabocolinhos.

Cabocleiro ou brinquedo de caboclo

Dança de caboclos é o nome que o povo da cidade dá ao "cabocleiro" ou "brinquedo de caboclo", festejo tradicional do Estado do Espírito Santo, em sua zona noroeste limítrofe e contestada com o Estado de Minas Gerais, de onde procede.

A primeira notícia que tivemos da dança foi no município de Barra de São Francisco, onde a mesma é organizada na localidade de Santo Onofre (a 60 km da sede) pelo sr. Juvenal Calixto.

O bloco é composto de pares num máximo de 24. Freqüentemente só brincam 16. Figuras indispensáveis são 2 mestres, 2 contra-mestres, 1 viola, 1 sanfona e 1 caixa, e 2 palhaços "papai vovô" e "mamãe vovó".

A indumentária chamada "farda", consta de camisa e calça curta, vermelha, de chita, enfeites de penas nas pernas, braços e pescoço, e boné espelhado; arco e flecha de madeira.

O mestre comanda as evoluções dos participantes com um apito. Foguetes são estourados antes do início de cada parte de que se compõe a brincadeira.

No dia 27 de julho último tivemos ocasião de assistir à representação do cabocleiro, na praça Dom Luiz, de Mantenópolis, Espírito Santo. Os participantes eram do Alto de São José, sob a presidência do sr. Natal de Lanes, sendo mestres José Germano e José Camilo, violeiro Francisco Viana, sanfoneiro Frederico dos Santos e caixa Juca Honório, participantes, José Alves Batista, Manoel Catalunha, Sebastião Rodrigues Lanes, Waldemir Santana, José Catalunha, Joaquim Deusdedit, José Rodrigues da Rocha, Antônio Arcebispo, Porfírio Rodrigues, Anilto Nunes da Rocha, Jair Osk, Geraldo Mello, Algerino Rosa de Andrade, Amélio Barbosa da Silva, um grupo de gente moça, cujas idade variavam entre 9 anos (o cacequinha ou mascote) e 20 anos. Papai vovô era Avestil Antônio da Silva e Mamãe Vovó, João Castro.

A época mais apropriada para o festejo é em janeiro por causa do dia 20, de São Sebastião, que tem semelhança com os índios flecheiros. Mas de junho para a frente, são freqüentes as exibições dos cabocleiros.

A dança começa com um ensaio, na saída, evoluções ligeiras para ambientação com o público. Logo a seguir são trancadas, pelos participantes, as fitas azul e vermelha, em um mastro adrede preparado. Em seqüência há uma parte dramatizada da morte dos caboclinhos.

Examinemos, mais detidamente, esta parte. O mestre tendo de viajar pede à Mamãe Vovó que tome conta dos caboclinhos, perguntando-lhe: — Toma conta e dá conta? Ela aceita, porém, se descuida e papai vovô mata todos os participantes. Volta o mestre e encontra seus companheiros derreados. Briga com Mamãe Vovó, ressuscita-os e parte em busca do assassino, que, encontrado, é morto. Mamãe Vovó chora a perda do companheiro, enquanto que os caboclinhos cantam:

Quem matou Papai Vovô
Co'a sua flecha na mão
Batendo a flecha pra cima
Batendo a flecha no chão.

E,

Levantô Papai Vovô
Co'a sua flecha na mão
Tomando conta da linha
Dominando o batalhão...

Levantô Papai Vovô
Junto com Mamãe Vovó
Tomando conta da linha
Dos caboclos carijós.

A dança subseqüente é chamada "parte da garrafa", em que todos os participantes, dançam dois a dois, em torno de garrafas, a que dão o nome de "trancar as garrafas". A quinta parte é a jibóia: a linha se põe em fila e sai marchando fazendo caracol. Segue-se a bateria de porretes em que todos, dois a dois armados de um pedaço de pau, lutam ardorosamente do mestre até o pé da linha: é um dos pontos altos do brinquedo. Aproxima-se seu fim, com o destrancar das fitas do mastro e finalmente a cantoria que leva os cabocleiros à igreja.

Esta cantoria é a narração dos martírios de São Sebastião:

Mátir São Sebastião, ai
Sendo nosso advogado, ai
Todo varado de flecha, ai
Neste toco amarrado, ai

São Sebastião, santo de Cristo, ai
Santo mártir glorioso, ai
Que nasceu cá nesse mundo, ai
Sempre pra nosso favor, ai.

Dentro da igreja recitam os "caboclinhos" um Padre Nosso, uma Ave Maria, uma Santa Maria, em louvor do mártir São Sebastião, Divino Espírito Santo e Nossa Senhora do Rosário, e, está terminada a festividade.

(Pacheco, José Renato Costa. "Cabocleiro ou brinquedo de caboclo". A Gazeta, Vitória, 24 de agosto de 1958)

Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira; Jangada Brasil.

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