O jongo é uma dança afro-brasileira do tipo batuque ou samba. Foi assinalada em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais. Recebe nomes como bendenguê (Rio de Janeiro), tambu e corimá (São Paulo), angona (Areias, São Paulo).
É dança viva no vale do Paraíba (São Paulo). Conforme a região, aparece na coreografia a umbigada.
É dança viva no vale do Paraíba (São Paulo). Conforme a região, aparece na coreografia a umbigada.
A dança é feita em roda, no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. Os figurantes dão passos deslizantes para frente, alternando os pés. Ao centro dança um solista ou um par, executando uma complexa coreografia, que chega a ser verdadeiro desafio de passos.
Isso, porém, tende a desaparecer, uma vez que a presença da mulher nessa dança está rareando, e os pares começam a ser formados por homens.
Dançado em terreiro, a qualquer época do ano, o jongo é acompanhado por percussão de tambores de diversos nomes, como o tambu, a candongueira. O canto é de estrofe e refrão, e às vezes o cantador traz à mão um chocalho, chamado guaiá.
Como variantes do jongo citam-se, entre outras, o bambelô (Nordeste) e o bate-caixa (São Paulo).
O jongo e o jongo de Taubaté (por Alceu Maynard Araújo)
O jongo é uma dança de origem africana da qual participam homens e mulheres. O canto tem papel importante no desafio versificado - nos “pontos” - e a música é para dança, para facilitar os movimentos, o que é uma função rítmica. Os instrumentos são de percussão - membranofônios - mais adequados à música primitiva; há também idiofônios. Em poucos lugares do Brasil ela sobrevive, e nesses núcleos, onde houve maior densidade de população negra escrava, possivelmente oriunda de Angola, ainda (o jongo) exerce uma função derivativa, recreacional para os habitantes do meio rural, nos agrupamentos urbanóides.
No sul do país, na região cafeicultora e na franja paulista, fluminense e capixaba da região da ubá, a dança do jongo é sem dúvida a mais rica herança da cultura negra presente em nosso folclore.
O jongo arraigou-se nas terras por onde andou o café. Surgiu pela baixada fluminense, subiu a Mantiqueira e persiste no “vale do sol” e dos formadores do rio Paraíba do Sul: Paraibuna e Paraitinga. Entrou também pela Zona da Mata mineira. No Estado montanhês o jongo é conhecido por Caxambu, aliás denominação dada também ao instrumento fundamental dessa dança - o atabaque grande, membranofônio ora chamado tambu, ora angona, ora caxambu. Denominação essa só adstrita ao jongo, porque ele tem muitos outros nomes pelo Brasil afora, noutras danças e cerimônias. Presente em Goiás e Espírito Santo.
Percorremos em estudos sociológicos de comunidades rurais vários municípios fluminenses e paulistas do vale do Paraíba do Sul, onde encontramos o jongo. Nas páginas adiante descreveremos os de Taubaté. Em mais de dezoito municípios da citada região, pequenas são as variações, assemelham-se com qualquer um dos descritos. Porém, dentre todos os que presenciamos, o que mais nos impressionou por ser diferente, foi o de Areias - uma das “Cidades mortas paulistas” descritas por Monteiro Lobato.
No pátio fronteiro à velha cadeia pública, realizou-se um jongo em dezembro de 1947. Os dançantes ficavam em hemiciclo ao lado do instrumental, entrando na frente destes, numa área até aquele momento sem ninguém, um dançador solista que fazia os mais complicados passos. Retirava-se. Vinha outro solar.
O solista dançava defronte de uma dama. Esta por sua vez, segurava delicadamente na saia e ficava, sem quase sair do lugar, num gingar ondulante de corpo, acompanhando as mil e uma viravoltas, meneios e requebros que o jongueiro solista executava. Ela apenas “aceitava a dança”, aquele requesto, aquele galanteio coregráfico, não dançava, continuava a cantar o ponto que todos estavam cantando.
Noutros municípios onde participamos do jongo, jamais tínhamos visto uma dança assim: era uma variação diferente. Ali idênticos eram: o instrumental, as músicas, os “pontos”. A dança era completamente diferente. Anotamos e ficamos “ruminando” sobre o assunto. (...)
O jongo da cidade de Taubaté é uma dança de roda, cuja coregrafia não se confunde com a do batuque, visto esta ser dançada em linha, embora ambas sejam de origem africana, e usando os mesmos instrumentos membranofônios de percussão.
Os jongueiros eram homens de cor preta, uns poucos brancos que se intrometeram, e a pessoa que dirige a dança é popularmente chamada “o dono do jongo”, e em geral ela é a proprietária dos instrumentos.
Às 20:30 horas já estavam algumas pessoas, umas 10 ou 12 apenas, e todas eram pretas. O senhor Leôncio e mais um pretinho sorridente batiam o “tambu” e o “candongueiro” animadamente.
Um preto já idoso gritava estentoricamente:
“O povaria...” (Sem compasso e com muito portamento):
Ouve-se uma voz gritar fortemente: - “me dá licência... me dá licência...” é meio cantado, havendo um portamento, a voz começa alta e vai abaixando como que arrastando as sílabas finais. O “dono do jongo” balança a angóia e se aproxima dos instrumentos.
Canta um “ponto”, e todos eles são improvisados, tanto a música como as palavras. Ao repetir o ponto, os instrumentos acompanham-no dando o ritmo. Dança e canto são acompanhados com a seguinte batida:
Na segunda repetição, e às vezes já na primeira, os demais cantam fazendo coro. É admirável o senso musical dos jongueiros. Canta sozinho aquele que lançou o “ponto” e a seguir os demais jongueiros cantam com ele em coro. Assim vão alternando até o final. O lançador do “ponto” é o solista, e ao repetir o seu canto, fazendo a primeira voz, os demais cantam harmonizando. Alguns cantam em falsete. Mulheres cantam preferindo a dissonância. Vão cantando, cantando e, às vezes, quase chegam ao êxtase. A monotonia é convidativa. Uma vez afirmado o canto, iniciam a dança que somente pára quando a pessoa que lançou o “ponto’ se aproxima do “tambu” e coloca a mão sobre ele e grita: “cachoeira”. Também quando outra pessoa deseja cantar, pede licença ao que lançou o “ponto” que estão cantando, gritando “cachoera”! Todos param e se aproximam dos instrumentos. Assim, noite adentro, até o dealbar do dia.
A música, quase sempre improvisada, tem, ora acentos de cunho religioso, ora profano. Pode-se observar que os jongueiros mais velhos têm melodias mais agrestes, e as dos mais moços são mais adocicadas. Talvez alguns jongueiros sejam passíveis da influência destradicionalizadora do rádio.
A dança é realizada no centro do círculo. Homens e mulheres dançam. Aproximam-se, afastam-se, balanceando o corpo, fazem o gesto de dar uma umbigada, tão característica do Batuque, porém, apenas aproximam o corpo. O homem balanceia para a direita e se aproxima da mulher, esta por sua vez balanceia também para sua direita, aproximando-se do homem, portanto não se defrontam perfeitamente, ficam um pouco de lado. Agora repetem o mesmo movimento para a esquerda. Vão dando voltas em sentido contrário às do ponteiro do relógio, direção característica que temos encontrado nas danças de roda de origem africana. Os jongueiros ora estão dançando no centro, ora na periferia, os pares se movimentam balanceantemente. Alguns homens sem parceira, porque são poucas as mulheres, ficam dançando sozinhos, e o fazem mais na periferia que no centro da jongada. O Jongo não é sapateado, mas sim balanceado, os pés são movimentados para frente e para trás, um pouco de lado, são quase que arrastados, não os batem no solo, pisam com o pé inteiro, ao executar o movimento. As mulheres flexionam os braços quando dançam, mantendo as mãos na altura do peito. Quando estão dançando, todos os jongueiros cantam, fazendo coro.
Em Taubaté, “ponto” é o texto-melodia, de caráter improvisado, usado para a dança. Pode ser de uma, de duas ou mais “voltas”. Compreende-se por “uma volta” uma estância que é cantada e não tem mais que dois versos; por “duas voltas”, quando há quatro versos. O senhor Júlio nos informou que primeiramente era costume cantar “ponto” de duas ou mais “voltas”, e que hoje somente cantam “pontos” de uma ou duas.
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha; Site Jangada Brasil in "Araújo, Alceu Maynard. Cultura popular brasileira; São Paulo, Melhoramentos; Brasília, Instituto Nacional do Livro, 1973"
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