sábado, 30 de julho de 2011

Moçambique

Moçambique no Vale do Paraíba, São Paulo - 1991
O moçambique é uma dança dramática ou folguedo de origem negra e de assunto guerreiro. Tem coreografia bastante parecida com a das danças de combate das congadas.

O moçambique ocorre em São Paulo por ocasião das festas do Divino Espírito Santo, e em Goiás e Minas Gerais nas festas de Nossa Senhora do Rosário.

Rossini Tavares de Lima assinala que em São Paulo o folguedo aparece em qualquer época — geralmente nas grandes festas das cidades em cujos arredores se encontrem “companhias” (nome dos conjuntos). Em Taubaté e Aparecida do Norte SP, assiste- se a essa dança dramática aos sábados à noite e aos domingos. A autoridade principal é o mestre: dirige a música, a dança e zela pela moral do terno. É quem faz escolha dos personagens, que podem ser: rei, rainha ou princesa, general, capitão, contramestre, meirinho, capitão de linha, capitão de tiro e vida ou pontal.


Os moçambiqueiros se vestem de maneira uniforme nas várias regiões: calças comuns, túnica ou camisolão cintados, gorro de pano enfeitado de fitas, contas etc. As cores variam, e eles dançam descalços. No inicio, com bastões e guizos nas mãos, entoam uma saudação religiosa. Aparecem o rei e a rainha com a bandeira de São Benedito. Saúdam o santo. Os membros da companhia depositam os bastões e guizos no solo e seguem o rei até o altar. Beijam a bandeira, voltam ao terreiro, amarram os guizos abaixo dos joelhos e começam a dança.

São comandados pelo mestre, que os orienta com um apito. Formam duas fileiras, frente a frente, uma comandada pelo mestre e outra, pelo contramestre. O mestre canta uma quadra, repete os dois primeiros versos, e todos os dançadores cantam os dois últimos, como refrão, repetindo-os muitas vezes. Enquanto o mestre canta dançam no lugar em que se encontram ou movimentam-se para a frente, uma fileira aproximando-se da outra.

Durante a dança, manejam os bastões, batendo-os nos dos companheiros à frente ou nos dos companheiros dos lados, cruzando-os à altura dos joelhos. A batida é feita conforme a música e as evoluções. Ainda com os bastões, formam no solo figuras semelhantes a escada, estrela e flor, devendo então cada participante executar passos entre os bastões.

Os passos e as figuras coreográficas mais curiosas do moçambique são o batuquinho, o banzé ou banzé-de-cuia e o jacundé. O emprego de bastões torna-o aparentado a outras danças, como o bate-pau de Mato Grosso, o vilão de Santa Catarina, o tum-dum-dum do Pará, o maculelê da Bahia, o chico-do-porrete do Rio Grande do Sul.

O mestre encerra a apresentação com o canto de despedida. Os instrumentos principais são: caixa clara (tambor cilíndrico chato) e o paiá ou matunga — guizos pregados em pulseiras de couro ou ligados por um barbante. Aparece ainda o pernanguma, prananguma, penengomem ou pernengomem, instrumento semelhante ao ganzá. E rabeca, viola, apito e os bastões, cujas batidas são ritmadas.

Como nas religiões afrobrasileiras, a música vocal do moçambique denomina-se linha ou ponto, o que leva Rossini Tavares de Lima a supor que de início o folguedo teve função mágica, convertendo-se subseqüentemente num “catolicismo popular, folclórico”. A música vocal segue o esquema do canto responsorial, mais comumente com solo, terças e coro. A introdução sempre é idêntica, com variações mínimas. A melodia é entoada sem esquema rítmico preciso, aproximando-se de um cantar declamado.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha - São Paulo - 2a. Edição - 1998.

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