A "moda" é uma palavra que em Portugal e no Brasil tem o significado genérico de canto, melodia ou música. Também designa no Brasil um tipo de canção rural, a moda-de-viola, ao que parece limitado aos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Rio de Janeiro.
Pela natureza dos seus textos, em maioria absoluta as modas são legítimos romances, narrativas de fatos que impressionam a imaginação popular, casos de todo gênero, descrição satírica de costumes, histórias divertidas de bichos. Mais raramente, são líricas e amorosas.
Há também modas de um tipo que quase se poderia chamar surrealista, absolutamente desinteressadas da inteligibilidade lógica. A estas os caipiras dão o nome de moda-de-patacoada, isto é, de absurdo, de tolice.
As modas são cantadas a duas vozes em intervalo musical de terças, e acompanhadas por viola. Quanto à métrica, apresentam geralmente versos de sete sílabas, podendo aparecer também os de cinco. As formas estróficas mais adotadas são a sextilha, a oitava, a quadra e, mais raramente, a décima.
Os cantadores de modas em São Paulo, chamados modistas, dão à quadra, segundo Cornélio Pires, o nome de verso-de-dois-pés; à sextilha, verso- de-três-pés, e à oitava, versos dobrados ou moda-dobrada. Portanto, a palavra pé, que geralmente o povo brasileiro usa para designar o verso, a linha, aparece em São Paulo com a significação de dístico ou talvez de número de rimas, pois que nas modas em quadras rimam dois versos (2 e 49) e nas sextilhas rimam três versos (2, 49, 6). A rima das modas paulistas é em geral fixa, isto é, as modas são cantadas em carreira.
Em São Paulo, pelo menos, há processos fixos de iniciar e concluir as modas. A fim de despertar as atenções sobre si, o cantador entoa uma quadra qualquer: e isso se chama levante ou encabeçar a moda. No final canta-se o “arto” (alto) ou baixão, processo a que também se chama suspender a moda.
Já no Nordeste, informa Alceu Maynard Araújo, os cantadores de viola empregam outras formas para o seu canto: sextilhas, moirão, martelo, quadrão, galope e, “para mostrar a capacidade improvisatória, rimam com os motes, geralmente dois versos sem rima, em redondilha maior (sete sílabas)”.
O cantador caipira de modas, puras ou de danças, parece não ter as qualidades de improvisador que distinguem o cantador nordestino, nem cultivar as lutas músico-poéticas em que essas qualidades melhor se revelam. O desafio, na zona caipira, aparece raramente e os poucos exemplos documentados estão longe de revelar a mesma força dos que se conhecem no Nordeste. Parece que o costume mais corrente no Centro é o encontro amistoso de cantadores em festas. Nessas ocasiões, cada um se limita a cantar as suas modas e o aplauso do público decide dos méritos de cada um.
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha - 2a. edição - São Paulo - 1998.
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