sábado, 4 de junho de 2011

Espontão

O espontão é uma dança guerreira que acompanhava a procissão e festa de Nossa Senhora do Rosário, no Nordeste. O nome deriva de uma lança curta utilizada na dança e que era usada como distintivo por sargentos de infantaria franceses e italianos até fins do séc. XVIII.

Luís da Câmara Cascudo assinalou-a em 1943 e 1944 nas cidades de Jardim do Seridó e Caicó, Rio Grande do Norte.

Tem início na madrugada de 31 de dezembro, com um grupo de negros percorrendo as ruas ao som de três fortes tambores. Conduzem uma bandeira, espontões e uma lança, esta nas mãos do chefe, o capitão-da-lança. Defronte às residências, o grupo faz sua coreografia: agita a lança e os espontões, dá saltos e recuos. Não existe canto, pois se trata de um bailado de guerra.


Dança do Espontão

"Qualquer pessoa de Caicó ou Jardim do Seridó dará notícias da dança do Espontão na Festa de Nossa Senhora do Rosário.

Já a tenho estudado. É uma dança guerreira, com instrumento de percussão, executada em honra da Santa ou de um pecador que o grupo deseje homenagear. Por ser dançada em época de festa religiosa e especialmente por homens de cor não significa ser bailado africano, como deduzi inicialmente.

É antes uma convergência de muitos elementos, de várias procedências, fundidos na oblação católica. Indiscutível é que os negros foram os autores desse processo aculturativo e também do seu uso regular na região seridoense.

Um desses elementos estranhos aos africanos é justamente o Espontão que denomina o bailado simples, coreografia ad libitum, com desenhos primitivos e rudimentares, voltando, saudando com lança ou os espontões aos tambores e ao público. Espontão, “esponton” era arma usada na Idade Média para oficiais-inferiores da infantaria. Era uma lâmina de aço presa a uma haste sólida de madeira, a lâmina em bico de espada ou língua-de-boi.

Durante o século XVI, era a insígnia dos sargentos da tropa a pé. Dirigia o grupo armado, acenando no ar empunhada pelo sargento, indicando a direção a seguir.

Certo principiaria como uma daga ou adaga, mas fora sendo alongada em meia-lança. Não era arma de arremesso. Era uma insígnia que se tornara instrumento defensivo mas no caso de luta corpo a corpo.

Parece ter vindo da península itálica para a França e desta para a Ibérica, Espanha e Portugal.

O uso do Espontão na dança afirma outro elemento curioso. Caracteriza uma dança militar, oblacional, de caráter votativo mas sem a participação da mulher nem a apresentação em qualquer época. A dança do Espontão tem dia especial para ser realizada e não é folguedo na classe dos divertimentos mas um cerimonial em homenagem ao orago e depois as pessoas ilustres.

Seria de louvor não haver dificuldade para a apresentação desse bailado. Os senhores prefeitos municipais podiam ambientar com simpatia o único, o derradeiro bailado, dança militar e religiosa que possuímos.

Protegê-la e onde a deixaram morrer de inanição, restaurá-la!" 

(Acta Diurna, Natal-RN, 26 de junho de 1947 - Câmara Cascudo)

Fontes: Memória Viva de Câmara Cascudo; Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

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