Mamãe, cadê o pandeiro/ o pandeiro o rato roeu/ Valei-me Nossa senhora/ O pandeiro não era meu |
Mais que um bailado específico, o mar-abaixo é um grande baile onde cabem vários tipos de danças, acompanhadas por dois tambores, solo e coro. Dele participam homens, mulheres e crianças. Os homens vestem camisas com bordados, calças brancas, chapéu de palha enfeitado de flores e fitas, enquanto a indumentária feminina consiste em camisolas de renda, saia de chita estampada e anáguas.
Durante os festejos, são abundantemente distribuídas bebidas alcoólicas, em especial a mucura, mistura de aguardente com ovo batido, limão e açúcar. Dada a improvisação dos figurantes, a coreografia é arbitrária. Ora os dançarinos formam filas, abraçados uns aos outros, ora se separam e organizam filas três a três ou permanecem isolados frente a frente, dançando ao som da música em compasso binário. Os passos variam conforme os toques das caixas.
Enquanto a dança se realiza, durante vários dias e noites sem interrupção, homens, rapazes e crianças exibem-se paralelamente em lutas corporais, saltos elásticos, capoeira e outros jogos de competição. O casal de festeiros, que dirige a dança, acompanha todos os movimentos do grupo, dele se distinguindo por trazer ao braço ou em torno do pescoço uma toalha branca.
Para Edison Carneiro, a dança seria resultado da mais distante influência exercida pela capoeira carioca, baiana ou pernambucana. Divertimento predileto dos trabalhadores amapaenses, o mar-abaixo é uma dança alegre, colorida e exuberante.
Marabaixo - Principal evento folclórico do Estado
É considerado uma tradição secular, passa de geração em geração através dos anos. É dançado na capital, Macapá, anualmente, nos meses de maio, junho e julho, nos bairros do Laguinho, na Favela e na comunidade do Curiaú. O ritual do Marabaixo começa (veja calendário) com o Ramo da Aleluia, onde se inicia a dança dos devotos com o tradicional batuque, e se prolonga até o Domingo do Espírito Santo, também chamado de Marabaixo do Senhor do Quinto Domingo.
Após o Sábado da Aleluia, os negros do Curiaú e do Laguinho, cortam um mastro de macumbeira ou de anauazeira. Na quinta-feira, depois do Marabaixo do Quinto Domingo, homens, mulheres e crianças vão apanhar a murta, dançando e cantando.
Um pequeno mastro é conduzido pela cidade, agitando uma bandeira vermelha à frente, tipo um balizamento, fazendo evoluções, onde segue também a bandeira do Divino Espírito Santo,principal alvo de homenagem dos fiéis devotos.
Tempos outrora, os foliões do Marabaixo entravam dançando na Igreja de São José de Macapá, e alguns rapazes subiam até a torre para tocar o sino, festivamente. O traje dos homens constava de uma camisa branca com bordados, calça branca, chapéu de palha enfeitado com fitas e sandálias de couro, enquanto o traje das mulheres era composto de camisa de renda, saia estampada e rendada, anáguas, arranjos naturais na cabeça (flores) e calçadas com sandálias de couro.
A missa e as novenas eram fundamentais no ritual. As bandeiras da Santíssima Trindade do Divino Espírito Santo e do Espírito Santo Real eram hasteadas em frente à Igreja matriz de Macapá e todos dançavam guiados pelo célebre mantenedor (cantador) Ladislau, morador de Curuçá, ou por mestre Julião Ramos. As mulheres cantavam como solistas ou “coristas”, sendo que algumas o exaltavam várias vezes (em rimas e versos denominados de versos “ladrões”). Homens, rapazes e crianças se empenhavam em luta corporal, na tradicional capoeira.
Nos bairros do Laguinho e Favela, na comunidade do Curiaú e até nas residências de pessoas importantes da cidade, dançavam-se o marabaixo. Naquela época, de preferência, à noite, a casa de dona Gertrudes, no bairro da Favela, dançava-se o Marabaixo com todo o fino ritual que lhe é peculiar. Atualmente, o Marabaixo continua ocorrendo no Laguinho, com maior freqüência, onde se pode verificar mais de perto as raízes e toda a ritualística do evento.
Os principais aperitivos servidos (em cuias) durante o ritual, principalmente no batuque, são a gengibirra, a catuaba e a macura. Depois, veio o tradicional cozidão feito com muito caldo, carne desfiada, diversas verduras, frutas e legumes. A participação é livre, sendo que qualquer pessoa pode participar espontaneamente ou a pedido dos festeiros. (Texto de Edgar Rodrigues)
Fontes: Governo do Estado do Amapá; Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFolha - 2a. Edição - São Paulo, 1998.
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