O maculelê, segundo Alceu Maynard Araújo, é uma “dança guerreira, praticada por negros baianos, jogo de bastões num ritmo vivaz marcado pelos tambores e agogô. O canto é individual e intercalado pelo coro, onde se destacam as vozes infantis. Só homens participam dessa dança de agilidade e destreza. No centro dança sempre o melhor do grupo, escolhendo o parceiro com o qual vai esgrimir”.
Existe em Salvador e Santo Amaro BA.
Os bastões usados pelos dançarinos recebem o nome de esgrimas ou grimas. Os figurantes vestem-se de branco e aumentam o tamanho da boca, pintando de vermelho os lábios.
O maculelê é remanescente do cucumbi, e hoje tem vida própria. O emprego de bastões torna-o aparentado a outras danças, como o moçambique de São Paulo, o bate-pau de Mato Grosso, o vilão de Santa Catarina, o tum-dum-dum do Pará, o chico-do-porrete do Rio Grande do Sul.
Folguedos tradicionais - O maculelê
Com o nome de maculelê existe em Santo Amaro, Bahia, um jogo de bastões (esgrimas) remanescente dos antigos cucumbis.
Manuel Querino já o registrava como parte dos cucumbis, escrevendo que os figurantes levavam grimas, cacetes de 30 centímetros de comprimento, que, "no final de cada estrofe, se cruzavam dois a dois". As esgrimas de agora são os mesmos grimas de Manuel Querino, mas as suas batidas não cobrem apenas os intervalos do canto: dão, mais do que as caixas e os pequenos atabaques, o ritmo fundamental dos meneios de corpo com que se executa o jogo.
Os cucumbis, como os caboclinhos do nordeste e os caiapós de Minas Gerais e São Paulo, eram autos negros em que os personagens, à maneira angolense, se enfeitavam de penas e peles de animais e arcos e flechas; mas, em face da repercussão popular dos movimentos nativistas e da literatura indianista, e em especial da extinção do tráfico negreiro, passaram com o tempo a figurar o selvagem nativo. O folguedo desapareceu, na Bahia, mas o jogo de bastões, que constituía um dos seus episódios, permaneceu e se tornou autônomo.
Como jogo de bastões o maculelê tem marcado parentesco com muitas danças nacionais - o moçambique de São Paulo, a cana-verde de Vassouras, o bate-pau de Mato Grosso, o vilão de Santa Catarina, o tundundum do Pará...
Entretanto, perdida a ligação estrutural com o auto primitivo, o maculelê tornou-se uma área de confluência das mais diversas manifestações populares. Está em constante ebulição. Uma primeira transformação, que lhe deu inconfundível cor local, foi a simulação do combate, não coletivo, mas singular. O atacante, que pode pelejar à vontade, até com dois e três, usa apenas um bastão, enquanto o atacado se vale de dois bastões, que habitualmente cruza no ar para defender-se. Da bateria do maculelê já não fazem parte os paralelepípedos, notados por Darwin Brandão em 1948. Sob a forma atual parece o maculelê um candomblé de caboclo dançado com bastões. O jogo inicia-se com a toada
Deus vos salve, casa santa
Onde Deus fez a morada...
que faz parte do hinário católico, mas também inicia, obrigatoriamente, as cerimônias públicas desses candomblés. As canções, os toques e o jeito de dançar - os requebros com flexão dos joelhos e movimentos predominantemente para fora do círculo - são os mesmos de uma aldeia de caboclos. O interesse despertado pelo maculelê nos últimos anos deu unidade aos poucos grupos que o jogavam (entre os quais o mais célebre era o do negro Popó), que agora se apresentam, uniformizados, em festas e solenidades públicas na Bahia.
Liga-se o maculelê, como folguedo popular, à novena da Senhora da Purificação, padroeira de Santo Amaro, e à festa que a arremata, a 2 de fevereiro, um dia de extraordinário colorido em todo o Recôncavo Baiano.
Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora; Jangada Brasil in "CARNEIRO, Edison. Folguedos Tradicionais".
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