quinta-feira, 21 de julho de 2011

Marrafa

A marrafa é uma dança do fandango de Parati RJ e do litoral paulista (Ubatuba, Cananéia, Itanhaém e llhabela).

São formadas duas rodas concêntricas, ficando as mulheres na interna e os homens na externa. As mulheres movimentam-se no sentido dos ponteiros do relógio, e os homens, ao contrário. A um sinal dos violeiros, os pares se defrontam.

As mulheres praticamente não saem do lugar, limitando-se a dar um passo muito pequeno para a direita. O cavalheiro balanceia com uma dama e depois desloca-se à direita, para balancear com outra. Esse passo é dado exatamente no momento em que o violeiro canta “Quebra na marrafa / quebra na marrafa”. O balanceio é feito sem que os pares se dêem as mãos.

A dança, que dura muito tempo, não tem palmeado nem sapateado. Pelo fato de estarem sempre rodando, os cavalheiros dançam várias vezes com a mesma dama. De vez em quando o violeiro faz uma brincadeira, que consiste em mandar quebrar a marrafa repetidamente.

A dança do fandango litorâneo

A versão que vamos comentar é de Ubatuba. Em 1947 Alceu Maynard Araújo viu a marrafa ubatubana e relata que houve, na ocasião, dificuldade para executá-la, porque muitos dos dançadores não a conheciam bem. A coreografia só era familiar aos mais velhos. Estes alegavam que os jovens não mais se interessavam pelas "miudezas" como a Marrafa, a Tonta, a Ciranda, a Andorinha, a Cana Verde etc.

Só se preocupando com a "xiba", à qual se referiam pejorativamente, como um sapateado sem figuras. Lembraram, ainda, que em tempos passados, depois das 5 horas, só dançavam as "miudezas", isto é, as 'danças miúdas'.

Há pouquíssimas referências à marrafa, embora saibamos ser encontrada em Parati, Ubatuba, Ilha Bela, Itanhaém e Cananéia, não vista fora da zona litorânea.

A Comissão encarregada de fazer o levantamento do litoral norte do Estado de São Paulo encontrou, por volta de 1959, entre as danças do fandango da região, embora "algumas fossem recordadas apenas no nome", a marrafa-minerada e a marrafa-paratiana, não fazendo menção à maneira de dançá-las.

A única descrição coreográfica que conhecemos é de Alceu Maynard Araújo e data de mais de duas décadas. Apesar de pouco praticada pelos jovens ubatubanos daquela época, a dança persistiu e pudemos constatá-la, examiná-la e aprendê-la em 1965 ou 1964 com caiçaras de Ubatuba.

Nessa ocasião entramos em contato com dançadores, cujos nomes não anotamos, por motivo independente de nossa vontade. Estava presente o Sr. José Fernandes, branco, de 45 anos aproximadamente, natural daquela localidade. onde residiu 20 anos, havendo participado de vários fandangos. Prestou-nos valiosas informações, tendo sido as suas indicações confirmadas e complementadas pelos demais. Para surpresa nossa encontramos a marrafa bem mais rica e variada do que em sua forma antiga.

Acreditamos ter sido o meio ambiente o causador de certas modificações apresentadas na marrafa atual. Há giros antes inexistentes, talvez inspirados em movimentos feitos pelos peixes, quando afloram à superfície do mar, em pleno sol, ou quando presos nos utensílios de pescar dão os últimos extertores. Esta hipótese tem fundamento pelo fato de, na coreografia, os cavalheiros terem papel preponderante nos giros, o que supomos acontecer em decorrência de serem os homens encarregados do trabalho e habituados a presenciá-los.

Aparecem, ainda, gestos que lembram os pescadores lançando a rede. Aliás, são universalmente conhecidas as danças ocupacionais, relacionadas com as profissões e citadas desde a Idade Média. A belíssima figura "Rede de Pescador" do Pau de Fita brasileiro nasceu no litoral e seu trançado é idêntico à trama feita nas tarrafas daqueles profissionais.

Faremos uma análise comparativa para focalizar a evolução sofrida pela marrafa nesses dois decênios, apontando as semelhanças e diferenças notadas: As duas rodas concêntricas conservaram-se, porém na versão atual nota-se alternância de sexos na constituição de ambas, talvez em decorrência das figuras que lhe foram acrescidas e que só poderão ser executadas partindo de nova formação. Os movimentos das damas continuaram mais restritos do que os dos homens.

Atualmente não se vêem mudanças de pares, em compensação são vistos a troca de lugar entre a dama e o cavalheiro respectivo e giro, ora de um, ora de outro, ao atingirem a nova localização. Repete-se a movimentação voltando aos lugares. Esta seqüência é feita muitas vezes, e nela o par dança de mãos dadas. Embora a marrafa seja considerada dança do fandango valsado, portanto sem palmas, nem sapateados, disseram-nos os informantes que a Marrafa ubatubana de nossos dias pode ser tanto "andada como sapateada", continuando, todavia, a ausência de palmas.

Os violeiros cantam hoje como o faziam antigamente. O que há de novo é os dançadores, dama e cavalheiro se defrontando, balançarem os dois braços para um lado e outro, várias vezes, como a imitar o lançamento da rede ao mar. Depois, os executantes, aos pares, contra-marcham por dentro do círculo e constituem uma coluna de pares. O primeiro cavalheiro de uma das colunas inicia interessante movimentação, indo girar com cada uma das damas da sua coluna, e voltando ao lugar. A seguir, o último dançador, da outra coluna faz o mesmo. Esta figura nos parece uma manifestação moderna da troca de pares da Marrafa ubatubana antiga.

A dança atual é, incontestavelmente, mais interessante, apresentando características novas, algumas talvez inéditas e outras adquiridas de danças conhecidas, o que atesta a evolução das manifestações folclóricas.

Utilizamos para a divulgação dessa dança, na Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo, o texto musical e os versos da Marrafa de Parati, recolhidos por Dulce Martins Lamas, por não havermos tido possibilidades de registrá-los na ocasião. Permite-nos esse procedimento o fato da comissão encarregada de fazer o levantamento das danças do litoral norte do Estado de São Paulo ter nele encontrado a Marrafa-paratiana.

Indumentária

Damas: vestido liso ou estampado (de feitio simples), abaixo da parte média da pernas com mangas curtas. Sandálias.

Cavalheiros: calças de brim claro, camisa esporte, colorida, chapéu de palha, sapatos do meio rural ou sandálias.

Acompanhamento: rabeca, violas (2), caixa e pandeiro.

Numero de participantes: pares à vontade.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e Publifolha; (Giffoni, Maria Amália Corrêa - Danças Miúdas do Folclore Paulista) - PORTAL FOLCLORE BRASILEIRO

Nenhum comentário:

Postar um comentário