terça-feira, 29 de março de 2011

Cambindas

Cambindas são grupos coreográficos existentes na Paraíba, dos quais Rodrigues de Carvalho, em 1903, dá notícia: “Os dançadores levam todo o tempo acocorados num movimento de sapo, que acompanha a música”.
Luís Saia, chefe da Missão de Pesquisas Folclóricas enviada em 1938 pelo Departamento de Cultura da prefeitura de SP ao Norte e Nordeste, declarou que já naquela época não se dançavam  as cambindas, substituída por um bailado semelhante ao maracatu pernambucano, seja, cortejo conduzindo uma boneca.

Havia outrora em Recife PE grupos semelhantes aos maracatus e também chamados cambindas, sobre os quais Guerra-Peixe colheu informações que permitem agrupá-los em três versões:

1) “Eram ‘nações’ organizadas à semelhança dos Maracatus, aparecendo na ocasião do Carnaval. Isso equivaleria quase a dizer que os ‘cambindas’ eram os mesmos Maracatus, não obstante as possíveis variações criando diferenças entre uns e outros grupos.”

2) “Eram ‘nações antigas’ constituídas unicamente por ‘negros africanos e seus descendentes’ mais próximos. Nesta informação não houve menção à indumentária, mas esclarece que os ‘Cambindas’ não saíam nos dias de Carnaval.”

3) “Explica tratar-se de grupos em que predominavam ‘negras vestidas de baiana’. Participavam também mestiços e brancos — estes pintados de preto. Além de ‘rei’ e ‘rainha’, havia personagens imitando os diversos postos de uma corte real, afora uma ‘quantidade de crianças’ de ambos os sexos, ‘de dez a doze anos’, usando ‘quépis e trajando paletós’ enfeitados com bordados transversais no peito. Tais agrupamentos exibiam-se no Carnaval.

O ‘grande número de baianas’ teria motivado, segundo o informante, o folguedo ser chamado ‘as Cambindas’, isto é, ser designado no feminino. A mesma pessoa concluiu afirmando que ‘Cambindas’ não passava do designativo particular de um único grupo; ou melhor, dos diversos ajuntamentos da mesma espécie, apenas um chamava-se ‘Cambindas’.” As nações mais antigas tinham nome de cambindas.

Recorrendo à memória popular, viva nos cantos do maracatu, Luís da Câmara Cascudo informa: “O mais tradicional maracatu do Recife, o Maracatu-Elefante, alude insistentemente nas cantigas como sendo Cambinda-Elefante: Cambinda Elefante / Na rua! / Chegou Cambinda-Elefante / Dando viva à Nação! /Vamos vê Cambinda-Elefante, / Nossa Rainha já se coroou! / Vamos vê Cambinda-Elefante, / Vadiá com alegria!”.

Sugere Oneyda Alvarenga que o nome deve provir da designação étnica dos negros que executavam a dança, pois cambindas, ou cabindas, são os “mesmos congos que vieram para o Brasil intimamente ligados aos angolas” (Artur Ramos).

Acrescendo a esses fatos as coincidências coreográficas encontradas em Recife e na Paraíba, a autora supõe que os cambindas constituíram a base do que viria a ser atualmente o maracatu.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

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