domingo, 10 de abril de 2011

Cantos de bebida

Os cantos de bebida são canções profanas, espirituosas ou maliciosas, entoadas em grupo durante festas, casamentos, batizados etc., com a finalidade de comprovar a resistência dos participantes às bebidas alcoólicas.

Afora o costume do Vira-vira (“primeira bateria / vira, vira, vira / vira, vira, vira / virou!”, cantam os participantes a cada copo virado de um só trago), não se registram no Brasil legítimos cantos populares de bebida.

Isso se explica pelo fato de a bebida nunca ter assumido no país conotações de diversão socializada ou lazer organizado.


Deve ser observado, por exemplo, que nos festejos populares a bebida geralmente atua como fator de discórdia, desentendimentos e brigas. Assim, os cantos de bebida no Brasil limitam-se mais a cantigas de beberrões, celebrando individualmente seus pifões ou as “virtudes” do álcool.

Era costume, nos jantares festivos da burguesia, fazerem-se brindes cantados aos donos da casa e mesmo à cozinheira. As canções tinham caráter alegre e buliçoso, e os textos falavam de pássaros brasileiros, heroínas românticas, patriotadas, não faltando as paródias de hinos religiosos: “Encontrei com Santo Antônio / Na ladeira do Pilar, / Gritando em altas vozes: / — Este copo é de virar!”

Há ainda cantos maliciosos e chulos. Entretanto, em termos de costume musical, os cantos de bebida estão quase mortos. Em Diamantina MG, onde ainda constituem costume vivo, recebem o nome de coretos e são entoados a várias vozes: nos seus meios burgueses, um dos mais conhecidos é o Peixe vivo.

Embora não constituam cantos de bebida, os jogos de mesa também podem ser aproximados dessa classificação, uma vez que são disputados em mesas de bares. O mais conhecido, em São Paulo e Minas Gerais, é chamado Escravos de Jó. Cada jogador apanha um talher ou caixa-de-fósforos e passa ao vizinho da direita, dando uma batida na mesa a cada tempo forte do compasso da canção entoada em conjunto: “Escravos de Jó / jogavam caxangá / pega, deixa, Pereira / guerreiros com guerreiros / zigue, zigue, zigue, zá”. Dessa forma, os objetos são passados de mão em mão, e quando chega o “zigue, zigue, zigue, zá”, cada som da melodia é acompanhado pelas batidas, num movimento lateral de vaivém partido da direita (sem soltar o objeto).

Assim, somente o zá deve coincidir exatamente com a colocação do objeto em frente ao parceiro da direita, possibilitando assim que a cantiga seja infindavelmente recomeçada, sem interrupção. A aceleração do ritmo, entretanto, faz os desatentos se atrapalharem no decorrer da melodia, por exemplo, batendo o objeto no lado esquerdo ou soltando-o quando não devem. Essa é a graça do jogo, pois quem erra é eliminado.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.

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