A chegança-de-mouros é uma dança dramática ou folguedo popularizado no Brasil desde o século XVIII, aparecendo já nas festas realizadas na Bahia, em 1760, por ocasião do casamento de Dona Maria, futura rainha de Portugal (Maria I).
É representada ao ar livre, e foi descrita por Henry Koster (1793?—1827), Karl Friedrich Philipp von Martius (1794—1868) e Auguste de Saint-Hilaire (1779—1853), que citaram passagens realizadas na praia.
O assunto parece resultar de uma mistura de motivos tratados em romances, cavalhadas, alegorias e farsas burlescas: trata-se de uma luta entre dois grupos — cristãos e mouros, com os respectivos reis.
Dança autônoma no início do séc. XIX, em meados desse século passou a incorporar cenas de outros bailados, convergindo para o fandango ou marujada, e passando a constituir um episódio desse auto.
Quase sempre a chegança começa na praia, onde se arma o barco, que é em seguida levado para o local da cena. Além de um rei para cada partido, aparecem personagens como comandantes, pilotos, marujos, soldados, gajeiros e outros, vestidos com variadas fantasias. Com a chegada dos cristãos, vindos de longa viagem, suas peripécias são relatadas em cantos.
Os mouros aparecem em seguida, tentando converter os cristãos à sua lei. Com a recusa destes, começa a luta, sempre vencida pelos cristãos e culminando com o batismo dos mouros.
Segundo a localidade em que ocorria, o folguedo apresentava variações. Presenciado por Koster na ilha de Itamaracá PE em 1815, incluía entre suas cenas a tomada de um castelo marítimo mouro, efetuada pelos cristãos.
Em 1818 von Martius assistiu no Tijuco (atual Diamantina) MG, e depois em São Jorge dos Ilhéus (atual Ilhéus) BA, a representações de cavalgadas luxuosas dos cristãos e mouros, com quadrilhas, volteios em carrossel e pelejas simuladas.
A música que acompanha o folguedo não tem qualquer caráter nacional. Expressiva e teatral, distingue-se de outras músicas folclóricas por acompanhar psicologicamente os textos. Segundo Mário de Andrade, é provável tratar-se de música de origem urbana, posteriormente popularizada, embora não existam documentos a respeito. Também conhecida simplesmente como chegança.
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.
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