O chico é uma das danças do fandango do Rio Grande do Sul e de São Paulo. Em Cananéia, SP, dança-se o chico em uma grande roda, ficando cada cavalheiro atrás de uma dama. Com o começo do canto dos violeiros, a roda gira no sentido dos ponteiros do relógio. As damas apóiam as mãos nos ombros, com as palmas voltadas para cima.
Cada cavalheiro segura as mãos da dama a sua frente. Quando o violeiro pára de cantar, os cavalheiros sapateiam e os pares giram, cavalheiro e dama trocando de lugar.
Com o reinício do cantos, o cavalheiro solta as mãos da dama que agora está atrás dele e pega as mãos da dama a sua frente e assim sucessivamente.
O chico (Recolhido de Meyer, Augusto. (1959). Cancioneiro Gaúcho. Porto Alegre: Editora Globo)
1 - O Chico caiu no poço, / Não sei como não morreu, / Por ser devoto das almas, / Nossa Senhora o valeu; 2 - O Chico caiu no poço, / Do fundo tirou areia; / Ninguém tenha dó do Chico, / Que está preso na cadeia; 3 - O Chico foi lá no poço / Com uma pedra no pescoço: / Ninguém tenha dó do Chico, / Que ele morreu por seu gosto; 4 - Lá vem Chico, lá vem Chico, / Deixá-lo que venha, sim: / Eu não devo nada ao Chico, / Nem ele me deve a mim; 5 - Quem é aquele que lá vem. / Com o lenço feito bandeira? / Pelo jeito que estou vendo, / É o Chico Polvadeira; 6 - Quem é aquele que lá vem. / No seu cavalo alazão? / É o nosso amigo Chico / Que vem dançar o sabão; / O cavalo deu um prisco, / O Chico caiu no chão.
O motivo do "chico" aparece pela primeira vez na "Gazeta de Porto Alegre". A versão mais completa é a Cezimbra Jacques, no "Ensaio sobre os Costumes etc". O verso inicial dá a entender procedência portuguesa. Em 5, nota-se um entrosamento com o tema tão popular de "Garibaldi foi à missa", que anda em nosso cancioneiro geral. Talvez haja algum parentesco remoto do motivo gaúcho com o nhô-chico, dança tida como original da marinha paranaense, segundo Renato Almeida.
Em "Música, doce Música", Mário de Andrade propõe a leitura de chiba para aquele estranho "chioo" (sic) citado por Balbi; creio, porém, que se trata de uma simples troca de tipo (o por c) devendo ler-se em errata o "chico", em vez de o "chioo". (V. o. c., pág. 116).
Transcrevo a seguir a descrição do chico dançado em Cananéia, tal como registra Alceu Maynard Araújo:
"No salão forma-se uma grande roda, ficando homens e mulheres alternadamente, um homem atrás de uma mulher. A roda vai-se movendo no sentido dos ponteiros do relógio. A dama que está na frente levanta os dois braços flexionados, pousa as costas das mãos nos seus ombros, as palmas ficam voltadas para cima; o cavalheiro que está atrás, pega nas suas mãos. O violeiro pára de cantar e fica somente tangendo a viola, enquanto isso, os homens rufam os pés, segurando nas mãos das damas.
Estas ficam mudando os passos para a direita e para a esquerda. A um dado momento, um sinal de topo que dá a viola, giram o corpo, sem largar das mãos, enfiam a cabeça por baixo dos braços e, passando pela direita, o homem fica à frente de sua dama, e agora é ele quem está com as costas das mãos nos seus próprios ombros, e a dama as segura. Inverteu-se, portanto, a posição inicial porém este tempo é muito curto, pois a um sinal do violeiro, antes de começar a dançar, o homem larga das mãos da parceira que está atrás de si e pega nas mãos daquela que está em frente.
O violeiro canta e estão de novo marchando, repetindo o que foi descrito, sempre mudando de par. As diversas fases da dança obedecem ao canto e sinais conhecidos que o violeiro dá. O cavalheiro de fato executa um pateio, pois ele, quando rufa os pés, bate-os em cheio no solo.
Os romeiros paranaenses é que gostam imensamente de dançar o chico. Quando ele vêm para os festejos do Senhor do Bom Jesus de Iguape, no mês de agosto, essa é a dança que eles mais apreciam, e é por isso que hoje sempre iniciamos o Fandango com o Chico. Todo mundo quer dançar e todos pedem o Chico... o Chico... e ela se prolonga durante uns bons minutos", assim se expressou um fandangueiro. É de fato uma dança voluptuosa. Nos volteados, os homens, barafustando-se, o corpo roça no de sua dama. Parece-nos que esse é um dos motivos que aumenta o interesse pela dança."
Fontes: Página do Gaúcho; Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.
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