A dança-dos-tapuias é uma dança dramática ou folguedo de inspiração ameríndia, registrado em Goiás e na cidade de Araguari, Minas Gerais.
Em 1925 Americano do Brasil descreve essa dança como “um arremedo fiel da caterã indígena”, variando bastante de acordo com os locais e as tribos de onde foi assimilada.
Em 1941 José Teixeira publica em livro uma descrição detalhada da dança que presenciou em Jaraguá GO, no dia da festa de Nossa Senhora do Rosário: havia 19 figurantes (dois caciques; um indiozinho porta-bandeira, com o estandarte de Nossa Senhora do Rosário; 16 guerreiros), embora não haja número fixo obrigatório de particípantes. A vestimenta é composta de blusa, tanga, calção com cinta de penas, capacete de penas, tacape, e o acompanhamento musical fica a cargo de borés, maracás, flautas e assobios.
Iniciada a música, os guerreiros deslocam-se dois a dois, simulando combate, indo formar fila no centro da pracinha da igreja, já ocupada pelos espectadores. O folguedo é dividido em quatro partes: na primeira é realizada uma coreografia de saltos, passos adiante e para trás, fortes batidas alternadas dos pés, enquanto são brandidos os tacapes, Cantam em coro uma estrofe, e a primeira parte se encerra com o solo do cacique, acompanhado pela orquestra rudimentar e escutado em silêncio por todos.
Tem início então a a segunda parte, com os tapuias dançando em círculo, em passos puladinhos para os lados e para a frente, fazendo caretas e agitando os tacapes. O porta-bandeira é mantido numa abertura da roda, e a cada intervalo das rodadas são cantadas estrofes em coro. Encerrada a segunda parte, as fileiras se recompõem e é entoado em coro o Lundu do Marruá.
A terceira parte começa com o cacique gritando; “Jupurunga matô mia fia?” Faz gestos de esticar o arco e disparar a flecha, e conversa com o resto do grupo, que o imita. Aí se inicia a ação guerreira propriamente dita, num duelo em que cada contendor tenta tomar o lugar do adversário, saindo vitoriosa a fileira que maior número de lugares conseguir conquistar.
Vem então a última parte, que é a comemoração da vitória. Os derrotados são obrigados a cruzar os tacapes, formando um estrado onde é erguido o cacique vencedor. O derrotado fica por baixo do estrado, sem as insígnias, e os vencedores dançam à sua volta, cantando em coro.
Em 1942 — apenas um ano após essa descrição — Renato Almeida fala de uma dança-dos-tapuios a que presenciou na capital de Goiás, já com algumas modificações ou simplificações de estrutura.
São 15 os figurantes principais: dois caciques, dois capitães ou guias, oito dançadores e três músicos, que ficam de lado, com roupas comuns. Os outros figurantes vestem-se de índio (saiotes, braceletes, cocares, colares, chocalhos nos tornozelos), pintam o rosto, usam camisa e dançam descalços. Carregam arco e flecha, e um bastão de ritmo.
Com um apito, um dos capitães comanda a dança. Os participantes se postam em duas alas, os dois caciques à frente, tendo por detrás os capitães ou guias. As alas se defrontam cantando, batem os bastões e depois os passam sobre a cabeça do adversário. Formam então uma roda e erguem os dois caciques num estrado formado com os bastões. Continuam a dança dos bastões e, em roda e em fileiras duplas, disputam duelos figurados, em que são usados os arcos e flechas. De repente, um dos caciques cai’”morto”. Há um coro de lamentações e ele “ressuscita”.
A dança termina ao som de uma marcha, durante a qual os figurantes dão idéia de estar seguindo severo ritual. Em quase todas as partes do folguedo, são entoadas melodias, cujo texto evoca cantos indígenas. A música, porém, nada tem de amerindia, pois os instrumentos são a sanfona (“pé-de-bode” ou “pé-de-cabra”), o bombo e o tambor surdo.
Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora.
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